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26 anos depois, FATAL FURY retorna triunfante com City of the Wolves: data de lançamento, plataformas, gameplay e tudo o que você precisa saberA SNK viveu seu auge de popularidade na década de 1990, quando franquias de jogos de luta como The King of Fighters, Samurai Shodown e Fatal Fury foram uma verdadeira febre nos fliperamas, especialmente na América Latina, onde KOF, principalmente, era o jogo mais presente nas máquinas entre a segunda metade dos anos 90 e começo dos anos 2000. Poucos anos antes de a SNK mergulhar na crise financeira mais grave de sua história, que resultou na falência da empresa, a desenvolvedora lançou, em 1999, Garou: City of the Wolves, jogo da série Fatal Fury que se passava vários anos após os eventos dos primeiros títulos e apresentava uma geração inteiramente nova de lutadores e liderada por Rock Howard, filho do icônico vilão Geese Howard e uma espécie de pupilo e filho adotivo de Terry Bogard, único veterano de Fatal Fury presente no elenco de personagens jogáveis de Garou.
Ainda que não tenha feito o mesmo sucesso que jogos como The King of Fighters 97 e 98 ou Samurai Shodown 1 e 2, até mesmo por ter sido lançado num período já de queda de popularidade dos fliperamas, Garou sempre foi reconhecido pelos fãs da SNK como um dos melhores jogos do estúdio. Agora, quase 26 anos depois, Fatal Fury: City of the Wolves chega para mostrar que não apenas é uma sequência digna da qualidade de Garou, como oferece uma gameplay extremamente fiel ao clássico de 1999 ao mesmo tempo que traz recursos modernos capazes de atrair o interesse até mesmo de jogadores mais jovens que não vivenciaram o auge criativo da SNK.
Coma uma excelente mescla entre tradição e modernidade, um elenco que traz de volta personagens clássicos de Fatal Fury que não estavam presentes em Garou e dois modos de história que exploram bem as motivações de cada personagem do elenco, City of the Wolves pode ainda não oferecer a mesma quantidade e qualidade de conteúdos offline dos principais jogos de luta do mercado, mas é o melhor trabalho da SNK desde The King of Fighters XIII e um título obrigatório para todo fã de jogos de luta.
Cidade dos lobos à deriva

Um dos pontos mais fracos da SNK em seus jogos de luta mais recentes foi o desenvolvimento da história de seus personagens, uma falha presente em The King of Fighters XIV (2016), Samurai Shodown (2019) e The King of Fighters XV (2022). Felizmente, Fatal Fury: City of the Wolves vai na contramão dessas falhas e e consegue criar uma história coesa e que apresenta bem as motivações de cada personagem, não apenas dos protagonistas.
Em essência, City of the Wolves divide sua trama em dois eixos principais. O primeiro deles é o clássico modo Arcade, que traz uma breve introdução sobre as motivações de cada um dos lutadores convidados para o novo torneio The King of Fighters e desenvolve mais da história desses personagens nas duas lutas finais da campanha dividida em sete estágios, incluindo ainda um epílogo com muitas imagens e diálogos extensos para os padrões dos jogos da SNK, com uma abordagem muito mais detalhada que em qualquer outro título de Fatal Fury.
O segundo modo história é o "Episódios de South Town", um espécie de RPG no qual nosso personagem viaja por três diferentes áreas de South Town, disputa uma série de lutas, tanto com personagens do elenco jogáveis quanto lutadores genéricos exclusivos desse modo de jogo, e sobe de nível até estar preparado para o desafio final. Ambos os modos são canônicos e complementares narrativamente, possibilitando um entendimento mais claro sobre o que aconteceu na cidade desde o fim de Garou. Aqui, Episódios de South Town acaba sendo uma espécie de complemento aos eventos principais abordados no modo arcade, e o entendimento completo da história de todos os personagens exige que se zere com esses lutadores nas duas campanhas.
Após a morte de Geese Howard, a cidade de South Town passou a ser dominada por brigas de gangues e facções criminosas menores. Nesse ínterim, Kain R. Heinlein, chefe final de Garou, conseguiu estabilizar o vazio de poder deixado por Geese e hoje mantém o submundo do crime de South Town sob seu controle, mas sempre com um temor constante de que esses grupos possam vir a se rebelar um dia e mergulhar a cidade numa nova era de caos. Supreendentemente, Rock Howard, protagonista que derrotou Kain no final de Garou, se tornou uma espécie de pupilo do antigo vilão, por motivos que são explicados no decorrer da trama do jogo.
O misterioso organizador do torneio The King of Fighters oferece como prêmio ao vencedor o "Legado de Geese", um misterioso par de pergaminhos que guardam neles um grande poder. A partir daí, cada personagem revela motivos próprios para ter acesso aos pergaminhos, desde razões sérias até algumas bastante inusitadas, mostrando que o equilíbrio entre seriedade e humor continua sendo uma característica dos títulos da SNK.
Embora a história principal seja claramente centrada em Rock, Terry e Kain, todos os personagens tem suas motivações bem representadas no jogo, alguns como mero alívio cômico, outros de forma mais séria. Muitas vezes, personagens ausentes no elenco jogável, mas que fazem parte do universo de Fatal Fury e Art of Fightting, marcam presença na história de outros personagens, o que pode inclusive dar pistas sobre DLCs da segunda temporada, visto que Joe Higashi, Andy Bogard, Mr. Big, Ken e Chun-Li já foram confirmados como os cinco DLCs da primeira.
O grande problema dos modos história de City of the Wolves reside no próprio escopo do projeto. Em vez de cenas de corte animadas que dariam mais dramaticidade às cenas e diálogos entre personagens, o novo Fatal Fury traz apenas ilustrações acompanhadas de diálogos ou, como ocorre em grande parte da campanha de Episódios de South Town, caixas de diálogos sem qualquer ilustração, exceto na apresentação e epílogo da história de cada lutador. Numa comparação direta com jogos como Tekken 8 ou Mortal Kombat 11, o modo história do game da SNK deixa muito a desejar nesse aspecto. Ainda que a trama dos personagens em si tenha um desenvolvimento satisfatório, um punhado de cenas animadas causaria muito mais impacto em determinadas cenas do jogo.
Gameplay com presas afiadas

Se o modo história de City of the Wolves tem seus altos e baixos, a gameplay representa o ápice criativo da SNK nos últimos 15 anos. O novo Fatal Fury mantém vários elementos clássicos que fizeram de Garou um dos melhores títulos da desenvolvedora nos anos 1990, com destaque para a manutenção do sistema S.P.G. Nele, temos acesso a alguns movimentos especiais do personagem em um dos três terços da barra de vida do lutador ou lutadora, sempre escolhido pelo próprio jogador.
Para aqueles que gostam de já iniciar as lutas com um potencial de dano mais elevado, o Accel Ratio é a opção ideal. Já para quem prefere ter acesso a movimentos especiais quando está num momento de dificuldade da luta e com a barra de vida já no terço final, o Final Ratio é a opção mais apropriada, pois pode nos recolocar na luta e nos dar a vitória em um momento em que estamos contra a parede. Por fim, o Flux Ratio é ideal para quem prefere uma opção mais balanceada, pois nele temos acesso a movimentos especiais e extensões de combo quando nosso personagem está no segundo terço da barra de vida.
Toda a gameplay do jogo, porém, é baseada principalmente no inédito REV System, uma novidade que determina como toda a dinâmica da luta se desenrola. Dentre as mecânicas defensivas, por exemplo, um dos principais recursos é a REV Guard, uma defesa que nega o famoso "chip damage", quando parte da nossa barra de vida é consumida mesmo quando nos defendemos, e ainda cria um espaçamento maior entre o seu personagem e do adversário. Esse recurso, no entanto, não pode ser usado indiscriminadamente, pois cada uma das nossas ações REV, ofensivas ou defensivas, consomem uma barra que quando atinge 100% nos coloca por alguns segundos em status de "Overheat", o que nos impede de usar todas as técnicas REV do jogo temporariamente. Ou seja, cada uma das ações REV deve ser usada de forma estratégica.

O status de Overheat não é tão limitante nem deixa os lutadores tão vulneráveis quanto o estado de "burnout" de Street Fighter 6, por exemplo, mas ainda assim reduz nossas possibilidades de combos estendidos e com dano otimizado. Uma das melhores formas de causar dano massivo no oponente é utilizar a mecânica REV Accel, que permite que conectemos duas REV Arts (golpes especiais) de forma consecutiva e tiremos, num único combo, quase metade da barra de vida adversária.
Outra mecânica defensiva extremamente efetiva, mas que só pode ser usada quando nosso personagem está com o S.P.G ativo é o REV Blow, técnica que faz nosso personagem aguentar um golpe inimigo e contra-atacar logo em seguida. A mecânica é especialmente útil contra oponentes que adotam uma postura agressiva o tempo todo e não param de atacar. City of the Wolves também conta com defesas perfeitas, que exigem que apertemos o direcional para trás (Just Defense) ou para frente (Hyper Defense) no exato momento que o ataque atinge nosso personagem. Essa defesa não apenas anula o chip damage que sofremos com a defesa convencional como também nos dá uma janela de contra-ataque chamada Guard Cancel.
Por fim, cada um dos personagens do jogo conta com três técnicas especiais: duas Ignition Gears, que podem ser acumuladas sempre preenchemos uma duas estrelas da barra de especial, e uma Hidden Gear, técnica suprema que exige que nosso personagem esteja com a barra de S.P.G. ativa e as duas estrelas da barra de especial cheias. As Ignition Gears têm versões mais poderosas quando utilizamos as duas estrelas da barra de especial em vez de apenas uma, mas um combo otimizado com o REV Accel ainda causa muito mais dano, de modo que as Hidden Gears acabam se mostrando técnicas especiais muito mais úteis em combate, pois podem tirar de uma única vez quase metade da vida do oponente e consomem menos recursos.
Fatal Fury: City of the Wolves brilha na gameplay justamente pelas enormes possibilidades que oferece com suas mecânicas. Aprender os sistemas básicos do jogo é bastante simples, mas dominá-los é um caminho bem mais complexo e, ao mesmo tempo, divertido. Em termos de mecânicas, o novo Fatal Fury é um dos jogos mais completos e ricos em opções da história da SNK, e certamente o melhor da era de gráficos 3D.
Modo treino e missões encurtam caminho de aprendizado

De modo geral, dominar os combos otimizados de cada um dos personagens do jogo exige tempo, e por isso utilizar o modo treino e as missões do jogo são fundamentais para não apenas entender as peculiaridades de cada lutador, como também para dominar os sistemas de City of the Wolves, dos níveis mais básicos aos mais avançados. Mesmo usando o controle prático, que exige comandos menos complexos, entender como os golpes de cada personagem se conectam é imprescindível para explorar o melhor de cada um deles.
Personagens como Rock Howard e Terry Bogard figuram entre os mais fáceis de aprender e dominar combos otimizados, enquanto lutadores como Gato, que tem um sistema de posturas com acesso a golpes únicos, são mais complexos. Lutadores novatos na franquia Fatal Fury, como Preecha e Vox Reaper, são dois dos mais divertidos de aprender, mas enquanto a discípula de Joe Higashi tem uma gameplay mais familiar e de simples execução, o pupilo de Grant, sub-chefe do Garou original, exige um pouco mais de tempo até ser dominado.
Para completar, Fatal Fury: City of the Wolves conta com um modo online que pude testar pouco no período de review, visto que o jogo ainda não foi oficialmente lançado e encontrar partidas exigiu vários minutos de espera. Contudo, nas poucas lutas que disputei, o rollback netcode funcionou de maneira bastante satisfatória e não tive problemas de conexão, exceto em uma luta. Além disso, nos períodos de beta aberto do jogo, tive problemas de conexão apenas num número bem pequeno de lutas, um indicativo importante de que City of the Wolves deve ter um modo online bastante competente no lançamento, mas ainda é preciso mais tempo de teste para ter um veredicto sobre essa parte do jogo.

Por fim, Fatal Fury: City of the Wolves tem os melhores gráficos 3D da história da SNK, com personagens bem mais expressivos do que os de lançamentos anteriores do estúdio e cenários muito mais vivos em cores e detalhes. O game ainda não conta com visuais capazes de competir com os principais jogos de luta do mercado, como Tekken 8, Street Fighter 6, Mortal Kombat 1 ou Guilty Gear Strive, mas a direção de arte do jogo faz um bom trabalho e alcança um salto visual notável em relação a The King of Fighters XV, lançamento anterior da SNK. Uma comparação entre os modelos de Terry, Rock e Mai Shiranui nos dois jogos deixa esse contraste evidente.
Em linhas gerais, Fatal Fury: City of the Wolves representa um salto notável da SNK em relação a todos os seus jogos de luta mais recentes e é um sinal de que a desenvolvedora japonesa, que já vinha de acertos com Samurai Shodown e KOF XV, atinge agora a melhor forma em sua era moderna e demonstra estar em um caminho bastante promissor para lançamentos futuros.
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Cristiano Ronaldo é anunciado como personagem jogável em Fatal Fury: City of the WolvesApós um hiato de quase 26 anos, Fatal Fury: City of the Wolves cumpre com enorme êxito a missão de trazer de volta um das franquias de jogos de luta mais icônicas dos anos 90. Com uma excelente gameplay e ótima mescla entre tradição e modernidade, a sequência direta de Garou ainda é um jogo extremamente familiar para os fãs do clássico de 1999, mas com uma série de novos recursos capazes de atrair um novo público. Os sistemas de controle arcade, para jogadores mais tradicionais, e prático, que conta com comandos simplificados, atendem a perfis distintos, mas ambos exigem prática até serem dominados. O modo história, dividido entre os modos de jogo Arcade e Episódios de South Town, um RPG bastante simplificado, é competente e apresenta bem as motivações de cada personagem, mas a total ausência de cutscenes animadas mostra que o novo Fatal Fury ainda não oferece a mesma quantidade e qualidade de conteúdos offline de seus principais concorrentes do gênero. Ainda assim, City of the Wolves é o melhor trabalho da SNK desde The King of Fighters XIII e pode marcar uma nova era de sucessos para a desenvolvedora japonesa.